segunda-feira, 30 de maio de 2011

"coringa".


agora sou coringa fora do baralho,
sou a única carta que a cartomante
não pôs no teu jogo,,,
sou a terra (virgem)
que provou do teu fogo (áries)
aquecido e bobo,,,
sou um acidente
na linha do destino
da tua mão direita,,,
sou a suspeita de que o amor
é sempre vão,,,
sou um coração pulsante
quase parado
(gás paralisante acabrunhado)
teu vou sair"
me arremessou pra dentro
outra vez,,,
uma embriagues
tomou conta do meu desejo,,,
não olho,
não vejo,,,
você linda saiu de mim
e eu, meio sem fim,
fiquei assim
assim...



1992

sexta-feira, 27 de maio de 2011

"entre o fado e o samba enredo"







te amar é como um fado
numa adega de lisboa
coração bate apertado
em cada acorde que ressoa...

é sangria desatada
entre a cara e a coroa
da vida quantificada
que tal e qual o tempo, voa...



te amar é como rima
rica, perfeita e rara
que habita uma obra prima
deliciosamente cara...

é tramóia do destino
que a insensatez ampara
um passageiro clandestino
em caravana no saara...



te amar é samba enredo
ralentando o compasso
desfilando em segredo
em pleno fim de março...

é silêncio de alameda
numa tarde de mormaço
é um véu de pura seda
em voo livre pelo espaço...




1994

quinta-feira, 26 de maio de 2011

"balãozinho"


nem era noite de São João
em minha cama um balão
de vez em quando
apagava e acendia
atiçando a folia
dentro do meu coração...

e o balão permanecia ali parado
festejando o inusitado
que sua chama traduzia
ao mesmo tempo
namorando e enamorado
apaixonante e apaixonado
e partiu no meio dia...

cai cai balão
devagarinho
na palma da minha mão

cai cai balão
reacende a fogueira
dentro do meu coração...



1992

terça-feira, 24 de maio de 2011

"um samba por causa dela"


cantei (ai cantei)
as minhas lágrimas
cantei a minha dor
hoje vivo cabisbaixo
não tem jeito
eu não me acho
sem você
e o teu calor...


subi o morro gritando
pra ver se você aparecia
desci o morro chorando
você nem sequer ouvia

minha preta foi embora
eu fiquei triste a chorar
mas depois eu peguei na viola
toquei e cantei e fiz a dor passar


cantei (ai cantei)
as minhas lágrimas
cantei a minha dor
hoje vivo cabisbaixo
não tem jeito
eu não me acho
sem você
e o teu calor...


tô chorando nesses versos
que transbordam dor de amor
mas qualquer um chorava
se perdesse aquela flor

tava tomando cachaça
espantando a desgraça lá em Meriti
mas depois eu peguei na viola
e fui dar uma bola lá no Acari...


cantei (ai cantei)
as minhas lágrimas
cantei a minha dor
hoje vivo cabisbaixo
não tem jeito
eu não me acho
sem você
e o teu calor...






1986

segunda-feira, 23 de maio de 2011

"quem sou?"

faz
sou o sonho...
quem é sonho
não se ilude,
sonha ilusões...


sou o novo...
quem é novo?
eu, de ontem
trespassado, ex amado,
com foto
na parede da memória
de alguém que morreu
porque esqueceu de viver...


sou o tempo
o vento
sou teu rosto no ex-pelho
cansado, suado
quase transparente...
sou pré demente...


sou teu sexo
agudo
atiçado
na língua, no dedo, no olho...


sou o olho
que olha sem ver...


sou o apito
da fábrica de fumaça
cinzenta...


sou um caminho
amarelo e roxo
que nos leva
da solidão ao insano...


sou este e aquele ano
em que todos os aviões
cairam de tédio
por não serem pássaros...

sou os aviões
o tédio
os pássaros
(sem asas)...


sou de concreto armado
sem alicerce
estrutura de merda,
sou o desgosto
da tua mãe
que queria te ver doutor...


sou
ato
ação
ator...


sou a onda
do primeiro baseado
da manhã
(hirishima-nagasaki)...


sou a bomba
sou a lua minguante
sem luz nos cabelos
(as trevas)
sou os pelos pubianos
de cachos incandescentes
nas trevas...

sou as trevas
do quarto
na hora do sexo...

sou as trevas
do olho
na hora do gozo...

sou o gozo
no riso
no olho
no espaço
no colo...

sou o colo
sem cabeça
recostada...


sou teus dentes
brilhando na noite
em que vimos o cometa...
pois é,
eu sou aquele
cometa
rasgando
o céu da tua boca...


sou o destino
numa parede de sonhos...

'sou o ar
o átomo
o rio
que passa sem pressa'*...


sou a chuva
que secou
o teu rosto
pálido
no varal...

sou um varal
de roupas e poesia...

sou a poesia
que soa
ao mais leve toc
do peito em chagas...

sou as chagas
os charcos
do teu peito
desfeito
desnudo
mudo...


sou o ócio
o prefácio
da obra prima
que foi transcrita
de trás pra diante...


sou as balas
dos fuzis bolivianos
nas ventas do ernesto...


sou a overdose
da elis
da janis
do jimi
eu não presto...


sou o momento sensato
do teu dia todo
me querendo a noite...


sou o teu palhaço
com a boca
pintada de sangue...


sou até a loucura
embora eu saiba
que
'a loucura
é um sopro
no ouvido'**...









1984




*- Beto Miranda;
**- Chacal.








sábado, 21 de maio de 2011

"feliz vida toda, Danusa."

faze
aquelas coisas
que dizem dos amigos
olhar na mesma direção
olharem-se por horas
olhar fixo
olhar fundo
olhar
olhar...

passamos disso...

o olhar se tornou sorriso
que virou riso
que virou palavra
muita palavra dita
palavra ouvida
palavra enfim...

diz o dito bendito
sente o gosto do riso
ouve seu nome
na boca do vento
traz pra mim um alento
de boca escancarada

me dá um beijo
com gosto de sol
de arbusto ao sol
enquanto os olhos matreiros
flutuam no espaço
entre outro beijo e um abraço...

amigo é assim
ama sem fim
é simples a complexo
ama sem querer sexo
é lindamente saudável
ama pra ser amável...

fácil escrever poemas
desvendar assuntos
difícil é viver juntos...

fácil achar uma rima
pra você Danusa
difícil não ter-te
como musa...


sexta-feira, 20 de maio de 2011

"quem é esse?"


quem é esse
que recolhe letras espalhadas
organiza em palavras
e as ordena em escritos?


quem é esse
de raizes tão urbanas
mas que cheira a mato
numa insólita mistura
de amargor e doçura?


quem é esse
tão agressivo no que escreve
e tão terno no que descreve
tão pouco otimista
e tão cheio de esperança?


quem é esse
que pensa ser poeta
que é péssimo esteta
mas que busca o belo
busca o elo
entre ele
e seus escritos?


quem é esse
maldito?




1993

quinta-feira, 19 de maio de 2011

"alma lavada".


felicidade vem
e deixa assim a'lma lavada
sem querer menosprezar ninguém
para mim não falta nada...


lembro do tempo em que eu te olhava da minha janela
menina brincando, sorrindo, cabelo enrolado e fita amarela

hoje garanto que o tempo não volta, mas se repete
ainda te vejo brincando e sorrindo pra mim através da internet...


tempo vai
tempo vem
como era bom de se viver
no tempo em que eu abria o tinco
da minha janela pra te ver...

tempo vai
tempo vem
e ainda é bom de se viver
mas hoje a minha janela
é do windows XP...



2010

Fiz este samba, dentro do ônibus indo de Macaé para o Rio de Janeiro, em Homenagem a minha amiga Jaqueline Ronque, que eu não via há 36 anos e que, eu iria encontrar horas mais tarde.
Obrigado Jaque e desculpe qualquer coisa.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

"camas, calmas, calmantes".


o agora é o antes

então brinco

de roda

roda gigante

entre um giro

um suspiro

e um aplauso

grito para o público

fazer suas marcas no tempo!!!

mas nem mesmo ouvem

quando falam

e falam agora que é antes

brinco lépido

entre vogais e consoantes

tonto

dormirei em instantes

que serão futuros

mas que é agora

pois

o agora é o antes (do que virá)

camas, calmas e calmantes

tudo é...

será?!



2011

sábado, 14 de maio de 2011

"tarde?"


depois, não me venha reclamar da falta de memória, da infância inglória, da vitória não reconhecida no jogo lasso da vida, são marcas de um tempo em que já era permitido a ousadia, a rebeldia, agora é tempo de ética, de estética refinada, o tempo de vigília já passou, é hora do fazer, do agir, do transgredir e demolir as cortinas de fumaça que tentam encobrir as nossas mazelas,,, ééééééé!!! aquela mazela: a superlotação da cela, o pó que esfacela, a dengue, a febre amarela, a bulimia da pseudo bela, a anorexia da magrela, o estacionamento sobre a faixa amarela, a bala perdida que atravessa a janela, enquanto tiver criança na rua, o resto é balela,,, seu tempo é agora, faça, aconteça, cometa, já já, não será mais o presente, aliás, o que eu disse até aqui, já é passado, o tempo não espera a sua decisão, ele não poupa ninguém, depois não vá se lamentar que já é tarde...amém...

quinta-feira, 12 de maio de 2011

"o aguadeiro".

ba

o aguadeiro anuncia a chegada, derramando sobre nós, anéis do tempo e espirais de espaço,,, bailam no ar ecos luminosos e multicoloridos, informando a transformação pós contemporânea em forma de outdoores,, de quando em vez o aguadeiro provoca enchentes catastróficas sobre cabeças ocres, sararás, chocolates, pretas,,, sobre a vil cidade também desabam boas novas: o aguadeiro, sobre prédios elegantes e favelas verticais, sobre condomínios organizados e fotos de cartões postais, mas tapumes em cores computadorizadas, vedam os olhos do ingleses e dos menos avisados, em forma de baners e outdoores e, meus olhos, cada vez menores, apontam seus fuzis no alvo do futuro,,, o sinal do aguadeiro, novamente caiu,,, a favela sumiu, e vejam que já passou março e abril...


2011

quarta-feira, 11 de maio de 2011

"cupidos da paz e do amor universal".


pessoas, belas pessoas, não me escondam as pernas, as tropas, os trapos, os tipos sanguíneos, nem me façam feliz acidentalmente...beatles acabou, será? e falo ao beto miranda, que o som está dormindo, mas não morreu, onde estão as lindas letras metafóricas que tu tinhas entre os dedos e sob a língua? os corpus continuam livres... barish, cadê o solo concreto mais doce e dócil que o próprio som dos tempos celestes? e aí luis ruiz, onde está aquela juventude que almejávamos, amadureceu no pé da vida? sílvia de castro, a que distância fica o teu palco da minha plateia? sei não, queria te dar um beijo bem no meio do 3º ato, quando saístes gritando pelo corredor central (ail) arcádia iguaçuana de letras... lennon não é profeta, é poeta e, como tal, o amei num dia de sol em são joão de meriti... nas telas continuo me deleitando ao som, à cena de um moço belo de preto chaplin... e o sérgio que leia marcouse, ferreira gullar, caetano não foi parar em londres por acaso e ficou triste quando ouviu ton jobim, flauta, violão, joão, jorge, gilberto, ben, gil e, o meu violão não faz acordes dissonantes, o muro da vergonha me mata de vergonha e, eu sei lá que deitou n'areia de amaralina copacabana no momento hiroshima, bum, sacana!!! volto a olhar o espelho, espinho no pulso e tusso o pigarro dos beijos que me negastes... riva, as raízes foram cortadas, o seio da família perdeu-nos e seguimos caminhando em busca da vida, da morte, do corte e do sal (de frutas)... por gentileza, calma pois ainda estou pasmo, janete clair morreu, e agora, quem vai me ensinar o amor? e a tua cabeça? é... janete morreu mesmo... elis? quem disse que morreu, tá vívida, apesar dos olhos pequenos e boca grande... sorria pimentinha... o marconi tá meio atrapalhado de contentismo absoluto, a luna o faz rolar de rir com dentes na boca ou na bolsa tem mil coisas pra nos fazer brincar... a doçura do violão do barish e da vida da ana cigana da feira da barra, morena de amarelo, margarida, trança e flauta, fecho os olhos, sinto paz e quero mais... são vinte anos de sessenta e quatro golpes consecutivos entre o equador e o capricórnio... virgem, áries, leão...uma leoa de capricórnio do dia oito de oito brilhos verdes na ponta da faca dos olhos e no cintilar dos caninos e incisivos que há pouco, cravaram-se em minhas vias, veias, artérias vitais, vitrais a colorir, de luz, o corpo, a ponta obtusa dos seios que me ferem a língua e o céu (da boca), seja forte como os teus próprios dedos tocando o meu corpo, que mais uma vez se debruça morto sobre o teu... uma leoa de capricórnio, do dia quatro, de voz rascante e pernas velozes e força de quebra nozes e contando verdades e fantasias, custando a me beijar, mesmo quando quer, tenha paciência que os anos virão e a felicidade junto com eles e os gostos e prazeres a brilhar no meio de qualquer noite com ou sem estrelas e, teu rosto claro, como um dia de verão carioca, e as tropas de cabelos amarelos e vermelhos são como os fios de cabelos amarelos e vermelhos do pai sol do pai da filha e dos espíritos de porco que não querem que nos satisfaçamos e as náuseas me fazem corar de pena da pobreza vazia das almas dos porcos tortos da rua sem praça, sem casa, sem nada... os anos passam na velocidade do tempo calejado, marcado no rosto, pelo preço de dois, leva-se um e assim sucessivamente... o hernesto foi fuzilado sem chance de ir para o juizo final , fatal, apocalypse now e os berros e burros presos no varal e, talvez, amanhã os aviões não joguem bombas no meu quintal e a munição dos cowboys termine antes das flexas dos hippies cupidos da paz e do amor universal.
amém.




29/11/1983

terça-feira, 10 de maio de 2011

"teu corpo".


coração
elo perdendo o caminho
emoção
belo em dor de espinho

vento bordando o teu corpo
o meu olho vê torto
objeto nublado

o que vejo
é desejo e mais nada

revelando o achar
é só amor-tecer

descoberto em segredos
verto-me'm olhar

modelar os festejos
que antes
permitiam , as avessas
um pedaço de sonho

valeu

espiando encantado
o teu descrever
acordado eu enxergo
o teu desnudar

a visão é o meu trunfo
mais louco

teu corpo


a paixão
em sentimento
é tão pouco

teu corpo...





1997

segunda-feira, 9 de maio de 2011

"feliz vida toda, Regina"


a infância da existência
na puberdade da raça humana
entre animais pré adultos
do planeta crescido
pela maturidade da galáxia
na infindável velhice do universo...




2011, pelo aniversário da minha amiga Regina Dalston.

sábado, 7 de maio de 2011

"quem sou eu, meu amor?"


por onde passo, a marca do meu passo deixa um traço no espaço entre quem vive comigo e quem lê os meus escritos... seja uma pessoa próxima ou uma pessoa ótima, todas sabem, de certa forma, o que me forma, o que me transforma, o que me solda, o que me molda, me fazendo ser o que sou, como me dou, como se faz meu show... muitos pensam que sou o que escrevo, mas devo informar que sou muitos outros a sonhar, a querer, a desejar... minha vida não está completa, não estou inteiro nem quebrado, estou poeta... e, como tal, atiro palavras setas para todos os lados, quem for atingido, cuidado! pois sou atento usuário da língua, me invento no imaginário, sou coringa, a minha ginga pode te atrair à primeira vista, mas para onde ir quando descobrir que sou arrivista? não me ponha na sua lista de natal, pois sou niilista, indescente, imoral... se você tem nome santo, não confie em mim, para seu espanto, maria, sophia, são o fim, madalena, sara, ester, não me dizem nada... tainá, mainá fafá são longa estrada, que no final, são partida e chegada... saporana, lis, beatriz me tornam aprendiz da colcha de retalhos da minha vida... rossana, fulana, cicrana queimam em chamas os meus caminhos e atalhos, despercebidas... mas todos querem saber, da minha alma, o que é ser por inteiro: não é calma nem dinheiro, não é trauma nem o meu cheiro, que já nem sei se é meu, da minha alma, ou alheio, mas você sabe que é teu, minha izaura, meu amor verdadeiro...




2003

sexta-feira, 6 de maio de 2011

'poesias tempográficas'


Poesias escritas durante
os ensaios da peça
"TEMPOGRAFIA"!



"torno"

o tornear do tempo
escorre lento
por entre as dobras
do pensamento

assim diz o meu
pressentimento...




"risco"

hoje é um outro tempo
diferente do ontem
mas corre o risco
de se parecer com
amanhã.
insista!!!



"datados"

escrever sobre o tempo
é só , agora, o que me comove
por isso meus poemas
são todos datados de 1969...

(baseado num poema de Fernando Pessoa)



"grito"

cada vez que eu te grito
e você finge que não escuta
me dá vontade de gritar:

filha da puta!!!



"agora"

eu te chamei
você não respondeu.

agora você me quer?

fudeu...







2011